Crítica | Alien: Covenant

A promessa da volta da premissa do terror ao universo Alien era evidente desde que Ridley Scott começou a falar sobre a continuação de Prometheus. Por mais que o filme, desde o início, tivesse o propósito de preencher as lacunas de seu antecessor, a expectativa para a volta do xenomorfo e junto com ele o terror visceral, claustrofóbico e aflitivo era grande. Entretanto, por mais que o monstro apresentando pela primeira vez em 1979 esteja de volta, o terror e toda a aura dos primeiros filmes da franquia não o acompanham, trazendo um filme de origem, mais explicativo do que qualquer outra coisa.
O longa se passa dez anos após os eventos de Prometheus, com uma nova tripulação a bordo da nave Covenant, dessa vez com propósitos coloniais, que acaba recebendo um sinal de um planeta e indo ao seu encontro, desviando-se de seu destino original. Ao chegar nesse planeta, eles encontram David (vivido por Michael Fassbender), um sobrevivente da nave Prometheus, cheio de segredos. Com o tempo, eles acabam descobrindo que não é apenas David que tem seus segredos, mas o próprio planeta abriga criaturas mortais.
O primeiro erro exponencial de Alien: Covenant é sua premissa de tentar mostrar os criadores de uma das criaturas mais assustadoras que o cinema já conheceu. Mesmo que Prometheus apresente os tais criadores da espécie humana, ao tentar criar uma origem para o monstro xenomorfo, Scott erra feio e não só torna a criatura muito menos assustadora, como também a minimiza muito - sem falar dos muitos erros de continuação que isso acarreta (e acredite, são muitos). Seja Prometheus odiado ou amado, ele trazia um propósito bem distinto dos filmes da franquia "principal": o Alien não estava no filme, e isso ficava claro desde o primeiro trailer. Em sua continuação, porém, trazer o xenomorfo novamente não faz com que esse pareça realmente um típico filme da criatura, parecendo apenas a parte dois da história de David.
Por mais que Ridley Scott tenha conquistado seu próprio espaço em Hollywood - e muito merecidamente -, a insistência do diretor no universo Alien acaba saturando até mesmo seu próprio trabalho. O próprio roteiro do filme - mesmo que não assinado diretamente por Ridley - não foge do esquema utilizado em Prometheus, entretanto, a promessa inicial era de um filme de Alien, apesar de ser uma continuação direta, e isso não é entregue da maneira esperada - até porquê mesmo que esteja no título, a criatura não é a protagonista dessa trama.
Outro grande erro é a adequação de Scott ao cinema moderno. É mais do que evidente a tentativa do diretor em transformar Alien: Covenant em um grande blockbuster, remetendo o pensamento do diretor ao de um produtor de cinema que se preocupa mais com a parte financeira. É claro que a escala dos filmes tende a crescer, e isso é natural, porém, o filme simplesmente não condiz com a ideia de que o terror trazido por Alien é um terror mais íntimo, mais visceral, e não um show de explosões, tiros e efeitos especiais. Além disso, o diretor parece ignorar o que ele mesmo consolidou ou aprimorou: as cenas de morte sádicas, a tensão pré-susto e toda a estranheza que cercava o Alien.
David também é grande parte do problema do filme. Apesar de ficar bastante claro que o objetivo de Ridley Scott de discutir a questão da aproximação do homem com Deus, e como a criatura xenomorfa funciona, basicamente, como punição divina, o diretor não parece mais próximo das origens de Alien: O Oitavo Passageiro, trazendo, na verdade, a história de um criador androide e isso destoa completamente do que a franquia Alien sempre foi. O mal aproveitamento de personagens também é outro erro drástico do diretor. Nesse quesito, o filme mais parece um longa de terror com orçamento tão baixo que nem pode pagar o cachê dos atores por muito tempo do que qualquer outra coisa.
Por fim, Alien: Covenant não traz de volta o terror claustrofóbico e íntimo do filme de 1979. Ao aprofundar-se nas origens da criatura, Ridley Scott desenvolve bem o que iniciou em Prometheus, preenche sim algumas lacunas, mas acaba tornando a criatura totalmente ordinária ao lhe dar um passado e torná-la familiar. A tentativa constante de dar um porquê para tudo torna o filme monótono, e apesar da presença do Alien, nada assustador, forçando Scott a apelar para o, tão comum atualmente, susto com som alto. Além do fato de que Ridley não consegue decidir se esse é um filme de Alien ou um filme ao estilo de Prometheus, tentando mesclar os dois, o que não funciona. E no fim de tudo, a palavra xenomorfo até acaba perdendo todo seu sentido com o filme, tornando a criatura - antes, algo estranho, desconhecido - em algo bastante familiar, com passado e uma história de origem bem alinhada - mesmo que péssima.

Direção: Ridley Scott
Roteiro: John Logan e D. W. Harper
Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterston, Danny McBride, Demián Bichir.
Data de lançamento no Brasil: 11/05/2017