Crítica | De Volta

Voltar às origens pode ser uma tarefa delicada, principalmente quando significa enfrentar o passado que deixou para trás. Feridas abertas, questões mal resolvidas, mágoas e dores daqueles que vieram antes de nós podem retornar à superfície. Essa é a proposta adotada pela diretora libanesa Jihane Chouaib para conduzir a narrativa de Go Home - em português, De Volta - que trata sobre as memórias de uma casa esquecida.
A “casa” é literal e simbólica no filme; de fato há uma construção, abandonada e degradada, que é o ambiente principal no qual o enredo se desenvolve, servindo quase como uma representação física do passado esquecido por Nada - vivida pela brilhante Golshifteh Farahani (Dois Amigos) - uma jovem libanesa que deixou a terra natal ainda muito nova com a família. A trama começa com o retorno da garota ao Líbano, em busca de respostas e de um confronto com a realidade da qual fugiu.
No contexto atual, histórias sobre refugiados ajudam a trazer perspectivas novas sobre as mais diversas dificuldades que estes enfrentam para fugir das atrocidades de seus países. Eles abandonam cultura, família, valores e raízes sem garantia de volta. A protagonista do filme , quase autobiográfico de Chouaib, representa o futuro e o drama ainda maior do que a partida: a reconexão.
É tocante assistir como a atuação serena e ao mesmo tempo angustiada de Farahani dá vida à jornada da protagonista em busca de lembranças e respostas. Nada vem da França - país onde reside- para visitar sua tia, que já encontra-se debilitada, e espera saber mais sobre o avô; um importante patriarca do vilarejo em que viviam, e um dos muitos a desaparecer durante a guerra civil que marcou a história libanesa. Em meio a lembranças confusas e pouco nítidas, à hostilidade do próprio povo e às memórias guardadas em sua antiga casa, a jovem decide manter-se fiel às suas origens.
A forma como a narrativa é conduzida a partir daí assume um ritmo arrastado e apresenta cenas pouco explicativas. Em certo ponto, passa a ser difícil para quem assiste acompanhar o que realmente está acontecendo, tanto no ambiente quanto com a protagonista. Há uma força nessa história que não é explorada adequadamente, muitos aspectos importantes são ignorados.
É interessante ver como se desenvolve a relação dela com o irmão Samir (Maximilien Seweryn), que também volta para a casa, com objetivos diferentes da irmã, e ajuda a representar as mudanças ocidentalizadas que ambos trouxeram para suas vidas. Ele ainda ligado aos pais, mas não mais ao país; ela ligada ao avô mas não mais aos pais. Ainda assim, embora a relação seja intensa, o desenvolvimento é raso e perde-se em meio ao roteiro.
O árabe e o francês, falados durante o filme, funcionam mais do que apenas idiomas e representam a cultura que esqueceram. Mas ,assim como boa parte dos elementos inseridos na narrativa, essa relação é explorada muito superficialmente e ainda faz com que seja difícil identificar o contexto de determinadas passagens.
Conforme o filme vai se aproximando do final, ao invés de nos dar respostas e conectar o enredo apresentado durante os quase cem minutos, ele pula para um encerramento pouco conclusivo. Talvez esse seja o ponto de vista que a diretora queira passar, e seria aceitável caso o conjunto da obra soubesse manter o espectador preso à história.
A fotografia é bonita, os cenários são surpreendentes, as atuações convincentes, mas a condução do roteiro desperdiça os demais aspectos de uma história tão importante e emocionante, mostrando que a forma de contar por vezes é mais significativa que o próprio conteúdo. Fica a dica para quem tem curiosidade de partilhar um pouco dessa visão, e não se incomoda em partir sem respostas.

Direção: Jihane Chouaib
Elenco: Golshifteh Farahani, Wissam Fares, Julia Kassar
Duração: 1h 38min
Data de lançamento: 2015