Crítica | Piratas do Caribe 5: A Vingança de Salazar

"Vida de pirata". Piratas do Caribe sempre foi sobre isso, apesar de seus exageros, seus vilões extremamente fictícios e suas batalhas épicas. A primeira trilogia da franquia trouxe o de melhor da saga, tanto no sentido de criação de histórias, como no quesito das lutas incríveis e do grande elenco. Entretanto, no quarto filme da franquia, Navegando em Águas Misteriosas, a direção da trama foi voltada totalmente para Jack Sparrow (Johnny Depp), que apesar de ser um personagem bastante carismático, demonstrou que não consegue carregar o filme nas costas, e a tal vida dos piratas foi esquecida. O quarto filme não traz nada realmente significativo, lembrando mais uma aventura para ver em um sábado à tarde, e este quinto filme, mesmo que eleve o nível, faz o mesmo: entrega uma boa aventura de maneira despretensiosa - e nada mais.
A trama do quinto filme se passa 17 anos após o terceiro filme, o filho de Will Turner (Orlando Bloom), Henry (Brenton Thwaites), busca uma maneira de libertar seu pai da maldição de buscar as almas dos mortos. O jovem Turner descobre que existe um item, o Tridente de Poseidon, que pode libertar todas as maldições dos oceanos. Coincidentemente, Jack Sparrow acaba sendo caçado por um homem amaldiçoado, Capitão Salazar (Javier Bardem), depois que vende sua bússola mágica. Sparrow, então, precisa ir atrás do Tridente também, a fim de libertar seu inimigo de sua maldição e salvar sua própria pele.
Diferente de Navegando em Águas Misteriosas, o filme não foca totalmente em Jack. Apesar da ausência - em boa parte do filme - de Will e Elizabeth (Keira Knightley), os diretores Joachin Ronning e Espen Sandberg sabem trabalhar os personagens coadjuvantes, explorando o novo casal de jovens do filme, o vilão, a tripulação e até mesmo William e Elizabeth. Porém, apesar de Jack não ser realmente o foco, é evidente que ele é o protagonista do título, e mais do que nunca, é notável a saturação de seu personagem. O caricato capitão nunca esteve tão sem graça, sem sal e claramente cansado em tela. Seja por suas constantes punchlines no filme, ou sua falta de entusiasmo em cada cena, apresentando apenas um personagem bêbado e sem muito carisma.
Assim como o filme anterior, este também não se propõe a criar uma história significativa para a cronologia - apesar de alguns acontecimentos que mudem o status quo do universo. Porém, desde o início fica bem claro que os produtores não propõem um filme sério com uma história intrigante no nível da primeira trilogia, entregando assumidamente um longa com cara de sessão da tarde - e que fique claro: não há nada de ruim nisso, pelo menos não quando isso fica explícito desde o começo. A Vingança de Salazar consegue superar seu antecessor facilmente no aspecto da história porque assume que não é um filme sério com personagens bem desenvolvidos.
Além disso, essa quarta continuação não tem medo de repetir situações clássicas da franquia: primeiro o casal - uma clara releitura de Will e Elizabeth -, o próprio vilão e sua tripulação amaldiçoada que remetem imediatamente à Barbossa e a tripulação do Pérola Negra no primeiro filme, as enrascadas que Jack se mete e as batalhas épicas no terceiro ato: uma tentativa clara de refazer a grande luta final do terceiro filme. O que fica cada vez mais evidente durante esse filme e seu antecessor é a falta que personagens secundários fortes fazem. Por mais que a presença de Barbossa seja significativa, o pirata está ainda mais saturado do que Sparrow, e a ausência de Elizabeth e Will durante o longa é muito sentida - sem dúvida que a reinserção do casal à franquia neste momento foi pensada justamente por isso.
Exatamente como todos os outros filmes da saga, este não foge do padrão de beleza estética apresentada. Desde navios imensos e muito bem feitos até a fotografia maravilhosa e o contraste notável que o mar tem com a tripulação acinzentada de Salazar. Mesmo que durante o filme tenha um Jack Sparrow jovem feito de CGI que beire o ridículo, o filme não deixa de impressionar com suas cenas mirabolantes e bastante divertidas. Além do ótimo trabalho de computação gráfica com o vilão e sua tripulação. Porém, por mais que o visual de Salazar seja ótimo, o personagem é bastante vago e mesmo que seja explorado - de maneira simplista - no filme, ele não se torna nem um pouco memorável, pelo menos não tanto quanto Davy Jones no segundo e terceiro filme ou Barbossa no primeiro.
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é uma boa volta ao universo de Jack e companhia. É um ótimo filme para a família e um que segue o estilo clássico de filmes dos anos 80, com pouca pretensão e entregando um começo, meio e fim muito bem estabelecidos. Porém, o longa reitera o cansaço de Johnny Depp no papel e corrobora o que o quarto filme já tinha deixado bem claro: a volta de Will e Elizabeth é extremamente necessária, tanto para contribuir com uma melhor dinâmica de personagens, quanto para tirar um pouco a responsabilidade de Depp, visivelmente saturado em tela. Por mais que não se iguale aos primeiros três filmes, supera facilmente o quarto e deixa um grande fio de esperança para o muito provável sexto.

Direção: Joachin Ronning e Espen Sandberg
Roteiro: Jeff Nathanson
Elenco: Johhny Depp, Kaya Scodelario, Orlando Bloom, Geoffrey Rush, Javier Bardem, Brendon Thwaites e Keira Knightley.
Data de lançamento no Brasil : 25/05/2017