Crítica | Resident Evil: Vendetta

Não é surpresa que Resident Evil sempre enfrentou dificuldades para conquistar o público no cinema, e de alguns anos para cá, essa mesma dificuldade tem sido encontrada no universo dos games, com jogos cada vez mais voltados para ação, se distanciando da essência da franquia, com exceção do último jogo lançado, que se voltou para o terror mas ainda assim vendeu abaixo do esperado. Em meio a tudo isso, as animações 3D de Resident Evil são os melhores trabalhos da franquia na última década.
Desde a primeira animação, em 2008, Resident Evil: Degeneration, o terror teve perfeito balanceamento com a ação, tornando o filme uma animação digna de uma franquia incrível. O fato de trazer Leon S. Kennedy (Matthew Mercer), querido pelos fãs e protagonista de RE4 - um dos melhores, se não o melhor da franquia - é outro ponto que torna Degeneration um sucesso. A continuação, Resident Evil: Condenação não manteve o mesmo nível do primeiro longa, mas ainda assim é notavelmente superior aos últimos games da saga.
Cinco anos depois, chega Resident Evil: Vendetta, trazendo Leon ao lado de Chris Redfield (Kevin Dorman), outro personagem adorado pelos fãs. Na história do longa, Chris está perseguindo Glenn Arias, um traficante de armas bioterroristas que planeja se vingar do governo norte-americano depois de ele ter matado sua família. Para impedir que Arias libere um vírus novo e acabe com toda a cidade de Nova York, Redfield recorre a Leon para ajudá-lo.
A primeira característica que se destaca do longa é sua localização na cronologia dos jogos. A animação se passa depois dos eventos de Resident Evil 6 e traz, pela primeira vez, um Leon totalmente cético e à beira de desistir. Isso porquê sua equipe inteira foi morta depois de cair numa emboscada, em que apenas Kennedy sobrevive. É um lado interessante e peculiar de se ver num personagem que sempre esboça algum tipo de piada durante os games em que protagoniza.
Assim como nas primeiras duas animações, a ação está bastante presente, mas de uma maneira muito mais contida. Apesar das metralhadoras de helicópteros marcarem presença, a luta pessoal de humanos contra zumbis está de volta, e mais do que nunca, a inevitabilidade da perda é evidenciada. Ainda que o filme siga exatamente a mesma linha de história dos dois predecessores, ver a dinâmica entre Leon e Chris é algo extremamente interessante e inédito, considerando que a única vez em que isso foi visto foi em Resident Evil 6, mas resumia-se a duas ou três cenas, e nunca os dois lutando contra algo juntos.
O que mais impressiona é como depois de anos e anos de franquia, Resident Evil ainda ache fôlego para surpreender e inovar, e isso é visto no filme. Se no sétimo game da saga principal, a Capcom encontrou como solução mudar as mecânicas do jogo, partindo para a câmera em primeira pessoa e um estilo de terror mais pessoal, na animação eles mostram o relacionamento de dois personagens queridos e dão indícios de uma possível catástrofe zumbi global, algo jamais visto nos games que sempre mostram casos isolados de ataques bioterroristas.
Resident Evil: Vendetta é essencial para os fãs da franquia de games, principalmente para aqueles que não consideram as adaptações cinematográficas fieis. O longa segue a mesma estrutura dos dois primeiros, mas ainda impressiona pelas interações inéditas de personagens, e por contar uma história que pode se expandir a partir do que foi apresentado. Mais uma vez, a Capcom mostra sua qualidade em contar histórias nesse universo, e melhor ainda: contar essas histórias utilizando personagens queridos aos fãs.

Direção: Takanori Tsujimoto
Produtora: Capcom, Marza Animation Planet
Dubladores: Matthew Mercer, Erin Carill, Kevin Dorman
Data de lançamento: 27 de maio de 2017 (Japão)