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Crítica | Annabelle 2: A Criação do Mal


O cinema de terror atual é facilmente execrado pelos muitos filmes que não possuem um roteiro denso com uma história decente, sendo a grande maioria dos filmes extremamente apelativos, previsíveis e unicamente visuais. A essência que o gênero possuía nos anos 70 e 80, com filmes como Halloween, O Massacre da Serra Elétrica e Evil Dead foi perdida, e a qualidade dos filmes caiu, restando a expectativa de ir ao cinema e tomar bons sustos, nada mais.


Essa noção toda sempre teve suas exceções, obviamente, mas o filme que realmente trouxe uma experiência completa de terror nos últimos tempos, com um roteiro envolvente, uma direção muito competente e com o pacote completo de sustos - incluindo uma boa ambientação, a antecipação para os sustos e a criação aos poucos do medo - foi Invocação do Mal, com direção de James Wan. O filme foi tão bem recebido pelo público e pelas críticas especializadas que gerou derivados e uma continuação. Annabelle 2 - A Criação do Mal chega superando seu antecessor e utilizando-se de artifícios apresentados em Invocação do Mal - que funcionam muito bem.


A história se passa antes do primeiro filme, mostrando o trauma sofrido pelo sr. e sra. Mullins, em que a filha do casal é morta. Anos se passam, e o casal acolhe algumas garotas e uma freira em sua casa, que estão desalojadas de um orfanato. Porém, coisas assombrosas começam a acontecer quando uma das meninas encontra a boneca Annabelle e uma série de terríveis eventos começa a acontecer.


Diferente de Annabelle, este segundo filme não tenta criar nenhum tipo de conexão muito clara com Invocação do Mal, dando mais liberdade para a história fluir independentemente. De início, a novidade mais bem-vinda é a troca de diretores: John R. Leonetti deixou a direção, e David F. Sandberg (responsável pelo terror Quando as Luzes se Apagam) assumiu de maneira muito competente, fazendo um trabalho muito superior ao de Leonetti, e seguindo algumas fórmulas utilizadas por James Wan em Invocação do Mal - algo que funciona extremamente bem.


A outra qualidade distinguível do filme é sua maravilhosa ambientação. É fato que todo terror necessita de um ambiente que deixe as pessoas desconfortáveis, e nada melhor para isso do uma protagonista aleijada de uma perna, que necessita de uma cadeira automática para auxiliá-la a subir e descer as escadas: é a receita perfeita para uma ótima cena de perseguição - muito bem aproveitada pelo diretor em uma cena específica. Além disso, todo o clima do filme é soturno e sinistro, deixando o espectador congelado, sempre à espera de que algo dê errado. E para que fique claro: diferente dos filmes usuais do gênero terror, nem mesmo a luz do dia serve de escape para os personagens.


A antecipação para o susto é outra característica fundamental para um filme de terror decente, e David F. Sandberg sabe fazer isso muito bem. A paciência do diretor em criar, passo a passo, o susto é digna de destaque. Sandberg não tenta apressar nada, nem utiliza como bode expiatório a música alta e uma imagem assustadora apenas para fazer o espectador levantar da cadeira. Não, ele faz essa construção pacientemente, e isso é agonizante, porque ao contrário de muitos filmes, com David o momento de máximo perigo é o momento de mínimo medo: o que realmente conta é o que leva ao susto, e isso é sensacional.


Infelizmente, alguns erros de Annabelle persistem na sequência. Apesar de Sandberg construir o terror de maneira exemplar, sem parecer apelativo, em alguns momentos, porém, ele recorre a escapes estéticos fáceis, como por exemplo mostrar o tal demônio que assombra a todos. Por mais que mostrar de fato o espírito seja arrepiante, fica clara a tentativa de apelar para o medo visual, fugindo completamente da proposta - muito boa, diga-se de passagem - de tentar criar um terror mais psicológico. O filme não precisava de demonstrações visuais tão esdrúxulas.


Annabelle 2: A Criação do Mal é um bom refresco em meio a um cinema de terror totalmente saturado por filmes que apelam simplesmente para sustos previsíveis e mal feitos, ou para demonstrações visuais extremamente chamativas e exageradas. Muito mais parecido com Invocação do Mal, com um roteiro bastante intrigante, uma ambientação muito bem construída, com ótimas antecipações para os sustos e uma direção exemplar de David Sandberg, a sequência mostra o potencial dos filmes de terror do século 21 e traz um vislumbre do que o cinema de terror já foi nos anos 70 e 80.



Direção: David F. Sandberg

Roteiro: Gary Dauberman


Elenco: Miranda Otto, Stephanie Sigman, Talitha Bateman, Anthony LaPaglia, Grace Fulton e Annabelle Wallis.


Data de lançamento no Brasil: 17/08/2017.

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