Crítica | Dupla Explosiva

Os filmes de duplas policiais - usualmente com um branco e um negro - sempre funcionaram bem no cinema de ação, principalmente no final dos anos 1980, com Máquina Mortífera, ou no final dos anos 1990, com MIB: Homens de Preto e Hora do Rush, além de muitos outros que poderiam ser utilizados como exemplo. Atualmente, esses filmes forem rareando-se, a não ser pela volta de duplas clássicas em séries de TV, que servem como reboots. Dupla Explosiva é a volta a esse "gênero", de uma maneira não tanto original, ainda que entregue exatamente o que promete: nostalgia, boas risadas, entrosamento de atores e boas cenas de ação.
Na trama do filme, o ex-agente de proteção executiva Michael Bryce (Ryan Reynolds) recebe uma missão de sua ex-namorada Amelia (Elodie Yung), em que deve proteger Darius Kincaid (Samuel L. Jackson), um homem que trabalhava como matador de aluguel e que vai testemunhar contra o ditador da Bielorrússia, Dukhovich (Gary Oldman), que contrata homens para assassinarem o ex-matador de aluguel, tentando impedi-lo de depôr contra o ditador. Bryce e Kincaid precisam se unir, e vencer as diferenças, a fim de que ambos consigam sobreviver.
Logo de início, o filme consegue fugir do estereótipo apresentado em seu próprio trailer: de que é uma cópia barata e mal feita de Máquina Mortífera. A trama do filme, apesar de não muito complexa, consegue trazer motivos coerentes para que Bryce e Kincaid se unam, além de conseguir fugir dos complexos casos policiais, recheados de conspirações e corrupção, a serem resolvidos, típicos da franquia com Mel Gibson. Durante o começo do longa, o passado dos protagonistas é apresentado rapidamente, sem se delongar muito, e não demora para que a tal dupla explosiva se una.
A melhor característica do filme está definitivamente na dupla, que mostra um entrosamento bastante natural, e extremamente divertido. Ryan Reynolds não precisa fugir muito de seu usual, e consegue arrancar risadas em suas próprias atitudes - mas que funcionam ainda melhor por conta do ótimo timing cômico de Samuel L. Jackson. Fica claro que as cenas cômicas do filme não teriam o mesmo peso com outros atores. A combinação funciona tão bem que é difícil não remeter com certa nostalgia à uma das duplas mais amadas do cinema: Roger Murtaugh (Danny Glover) e Martin Riggs (Mel Gibson).
O grande desperdício do roteiro fica por conta de Gary Oldman. O ator, apesar de ser bastante ameaçador no filme, acaba caindo no típico vilão russo estereotipado, saturado e fora de validade que o cinema costumava ver bastante durante os anos 70 e 80. Ele tem seus momentos no filme, mas nada que tire da cabeça o quanto o personagem parece uma caricatura mal feita de um vilão do 007 ou de John McLane.
As cenas de ação, por outro lado, são excelentes. Patrick Hughes (conhecido pelo fraco Mercenários 3 e Busca Sangrenta) é quem assume o comando da direção, e ele consegue colocar em prática o que aprendeu com seus erros em Mercenários 3. O diretor executa cenas de perseguição de carros/lanchas/motos muito bem esquematizadas e sempre abusando dos efeitos práticos, recorrendo raramente aos efeitos especiais, dando assim uma sensação de imersão muito maior. As cenas de luta também são muito bem filmadas, sempre muito visíveis e apesar dos muitos cortes, a câmera segue bem os personagens durante seus movimentos, sem nunca deixar o espectador perdido ou desinteressado.
O filme, em si, não é exatamente um longa muito original - e não há nenhum mal nisso, pelo menos nesse caso. A revisitação de Dupla Explosiva a elementos clássicos de filmes policiais dos anos 1980 e 1990 soa mais como uma homenagem e uma volta nostálgica às sessões da tarde da infância do que a uma possível falta de originalidade de Hughes e Tom O'Connor (roteirista do filme). A dupla com um branco e um negro; um dos parceiros ser completamente maluco, enquanto o outro é mais racional; os montantes de problemas que nunca parecem ter fim; o vilão russo caricato; todos esses elementos são típicos de clássicos do cinema, e nesse longa servem como base para uma homenagem à esse tipos de filmes.
Dupla Explosiva é um filme bastante honesto. O longa tenta trazer de volta ao cinema os elementos que sempre funcionaram nos anos 80 e 90 de uma maneira que funciona nos dias de hoje. Com uma dupla de personagens bastante carismática e divertida, o filme proporciona boas risadas, ótimas cenas de ação e uma homenagem clara aos clássicos da sessão da tarde, sem parecer uma cópia barata ou desonesta. Apesar de acabar caindo em algumas situações que hoje em dia soam mais como uma caricatura de algo que costumava funcionar, Dupla Explosiva é uma excelente homenagem a filmes policiais clássicos e um longa que tem potencial de trazer de volta à moda duplas policiais contrastadas.

Direção: Patrick Hughes
Roteiro: Tom O'Connor
Elenco: Samuel L. Jackson, Ryan Reynolds, Elodie Yung, Gary Oldman, Salma Hayek e Joaquim de Almeida
Distribuidora: California Filmes
Data de lançamento: 31/08/2017