Crítica | Game of Thrones - Sétima Temporada
[ O texto abaixo pode conter spoilers da sétima temporada de Game of Thrones]

Após dois meses de muita turbulência para fãs e executivos da HBO, que precisaram lidar com diversas situações desagradáveis, como as ameaças de hackers e falhas internas, a sétima temporada de Game of Thrones, o épico televisivo fantasioso da dupla David Benioff e Dan Weiss, baseado nos livros de George R.R.Martin, chegou ao seu fim.
O sétimo ano da série foi o “início do fim” da narrativa que temos acompanhado desde 2010. Apesar disso, a penúltima temporada foi a mais curta de todas no que diz respeito ao número de episódios. Enquanto as outras temporadas contavam sempre com dez episódios esta foi resolvida em apenas sete, pelo fato de ter sido investido muito em efeitos visuais, o que fez, nitidamente, com que o desenrolar da trama se desse de uma forma muito mais acelerada. Eventos que, normalmente, demorariam cerca de dois ou três episódios para serem concluídos, aconteciam em um espaço de minutos dentro de um único episódio.
Esse era o caso de viagens longas (tanto de pessoas quanto de informações, mais precisamente, corvos) que eram totalmente cortadas para que acontecimentos mais importantes e grandiosos ganhassem o seu devido espaço. Isso acabou por tornar a temporada mais dinâmica e focada no que realmente era importante, logo, essa “aceleração” de eventos menores não fez com que a qualidade da temporada declinasse.
Entretanto, quando um desses “pulos da trama” não condizia com algum outro, um problema era detectado no roteiro. Um exemplo disso é o fato de Jon Snow ter ido de Winterfell até Pedra do Dragão de um episódio para o outro enquanto Bran Stark demorou dois episódios para ir da Muralha até Winterfell (uma distância significativamente mais curta). A intenção era justamente que os irmãos nãos se encontrassem para que eventos futuros pudessem ocorrer, afinal, se Jon tivesse se encontrado com Bran ele certamente já estaria sabendo das suas verdadeiras origens. Situações como essa fizeram com que o roteiro desta temporada fosse marcado por certas irregularidades, as quais eram frutos de soluções preguiçosamente pensadas pelos roteiristas para que, no fim, certos arcos terminassem da maneira que era solicitada pela narrativa.
Apesar das incoerências em determinados detalhes, o ritmo que a série adotou não incomodou e, no fim, ficou mais do que claro o porquê do corte de episódios por conta do orçamento: dragões. Os dragões protagonizaram as cenas (visualmente) mais incríveis de toda a série até então, e entregaram tudo o que os fãs esperavam deles. O CGI envolvido na montagem dos filhos de Daenerys estava impecável. Drogon, Viserion e Rhaegal nunca pareceram tão reais quanto agora. E os efeitos não se restringiram só aos dragões, mas também foram aplicados à ursos zumbis, exércitos e muita destruição (por isso, a lembrança de que o lobo gigante de Jon Snow, Fantasma, não foi sequer mostrado de relance, é bem desanimadora).
No que diz respeito ao audiovisual, o penúltimo ano de Game of Thrones foi com certeza uma das coisas mais impressionantes que já foram mostradas na televisão. Batalhas grandiosas, muito bem dirigidas, com ótimas coreografias de guerra e iluminação mais do que adequada, sem contar os efeitos especiais de dar inveja à muitas produções hollywoodianas. A mixagem de som durante toda a temporada foi algo trabalhado com maestria, com temas que, sem sombra de dúvidas, eram a cereja do bolo em muitas cenas grandiosas.
A trama da nova temporada foi, no geral, bem desenvolvida, apesar da aceleração e da previsibilidade (que antes era um fator que pouco se manifestava em Game of Thrones). Como já mencionado anteriormente, algumas soluções de roteiro tiraram um pouco da complexidade da série, deixando ela mais “comum” em relação ao que costumamos ver na televisão (o que não quer dizer necessariamente que a série esteja ruim). Certos caminhos seguidos pelos roteiristas fizeram com que, em determinados momentos, uma parte da essência de personagens queridos tenham sido retirada para dar sentido à trama.
O desfecho da maioria dos núcleos foi satisfatório, exceto pelo arco da Cidadela, centrado em Samwell Tarly. A temporada não soube atribuir a devida importância à tal arco, tendo em vista as descobertas feitas por Sam. Algo que parecia ser promissor (levando em consideração a chegada de Sam à Cidadela no final da sexta temporada) no fim, foi resolvido de forma muito rápida e não memorável, quase como se Sam tivesse ido até a Cidadela por nada (o que, de longe, não era o caso). Já outros núcleos, como o dos Lannister, merecem destaque por cumprirem com o que era esperado. Diálogos entre Cersei, Jaime e Tyrion foram, como sempre, empolgantes e bem escritos.
A sétima temporada preparou o terreno para o que está por vir. Agora Game of Thrones chegou em sua reta final. Muitos acontecimentos desse penúltimo ano já eram esperados e desejados pelos fãs mais do que qualquer coisa (motivo esse da previsibilidade não usual em Game of Thrones, nesta temporada). Uma pequena desandada na complexidade da trama não faz com que às expectativas para o desfecho dessa história tenham diminuído nem um pouco, pelo contrário, estão mais altas do que nunca. Por conta disso, espera-se que todos os erros cometidos nesta temporada sejam ajustados na próxima, para que Game of Thrones tenha um final digno da série que sempre foi.

Ficha Técnica
Produtores: Dan Weiss e David Benioff
Elenco: Emília Clarke, Kit Harington, Peter Dinklage, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau
Distribuidora: HBO