top of page

Crítica | Columbus


A maioria dos filmes se propõe a fugir - pelo menos um pouco - do realismo do mundo. Invasões alienígenas, super-heróis, ação desenfreada, exércitos de apenas um homem e criaturas sobrenaturais são apenas alguns dos muitos exemplos de ficção que o cinema tem. Indo na contramão disso tudo, Columbus remete mais a uma parábola, a uma história isolada que se apresenta como uma crônica da vida comum - e faz isso de maneira tocante e bastante sentimental.


A trama conta a história de Casey (Haley Lu Richardson), que mora com sua mãe em uma pequena cidade assombrada pela promessa do modernismo. Jin (John Cho), um visitante do outro lado do mundo, comparece para ver seu pai, que está morrendo. Sobrecarregados pelo peso do futuro, ambos encontram refúgio um no outro e na arquitetura que os cerca.


De cara, a característica mais impressionante do filme é a poesia na direção de Kogonada, que está estreando como diretor. Além de planos sequências pacientes com os atores, o diretor tem uma maneira maravilhosa de conciliar em tela a arquitetura esplêndida da cidade de Columbus e os personagens de Haley Richardson e John Cho. Kogonada também consegue criar uma ligação bastante intrigante - e muito verdadeira, por sinal - dos personagens com a arquitetura que os cerca, dando uma importância quase sagrada para as construções modernistas da cidade. O que normalmente funciona apenas como cenário, neste filme tem vida própria, atuando até mesmo como um personagem bastante presente.


A história do filme - que é assinada por Kogonada também - é outro aspecto positivo. Como já citado, Columbus não segue as tendências hollywoodianas, apresentando uma trama bastante humanista, sentimental e que mais parece uma crônica do que qualquer outra coisa. Isso porque o roteiro foca em simplesmente contar uma história cotidiana, de uma maneira bastante tocante. O propósito de Kogonada não é contar uma história simples com começo, meio e final, mas sim de relatar determinado período na vida dessas pessoas que estão passando por grandes dificuldades e encontram uma brigada um no outro. O relato cinematográfico chega a ser tão comum e ordinário que mais parece um documentário em certos momentos - e isso é incrível.


A alegoria que o diretor constrói acerca de como a arquitetura serve como escape para ambos os personagens é bastante coesa e também funciona como um bode expiatório visual para Kogonada. Os longos takes mostrando as construções modernistas, as igrejas, os bancos, os hospitais, todos repletos de significado apesar de parecerem simples cenários, são esplêndidos. A habilidade do diretor em dar vida a prédios, por exemplo, é facilmente perceptível. A relação construída entre Casey e a arquitetura também é feita de maneira sutil, parecendo até mesmo uma paixão recíproca.


Outro destaque imprescindível é o das atuações maravilhosas. John Cho faz o papel da sua vida, trazendo um personagem rancoroso, que tenta fugir do seu passado, mas assustado demais com seu futuro. Apesar de parecer discreto durante vários momentos, a contenção do ator impressiona, e seus momentos explosivos também são recheados de brilhantismo. Entretanto, o maior destaque fica para Haley Lu Richardson. A garota de 22 anos destoa completamente, basicamente carregando o filme ao lado de Cho. O trauma que a personagem carrega e a dor que ela sente ficam evidentes durante todo o filme para os mais atentos. Muitas coisas em relação ao passado da garota no filme ficam apenas subentendidas, e Richardson tem mérito em conseguir transmitir essa sensação de fardo carregado. Nos momentos mais extremos de atuação, Haley também não decepciona.


Extremamente singular, Columbus é a experiência mais agradável de 2017 até agora. Bastante sentimental, tocante e sensível, o filme reflete situações que podem ser vividas por qualquer um, e essa identificação é essencial para se conectar totalmente ao filme. Seguindo mais as características de uma crônica, o roteiro do filme não se propõe a contar uma história feliz ou uma história de romance ou uma história de redenção. Não, o roteiro de Kogonada apresenta apenas uma história de passagem, que serve para relembrar a importância da família, da amizade, da arquitetura, do amor e da contemplação.



Direção: Kogonada


Roteiro: Kogonada


Elenco: John Cho, Haley Lu Richardson, Parker Posey, Rory Culkin


Data de lançamento no Brasil: 14 de setembro

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square

 2017 | Todas as imagens de filmes, séries, games, personagens, quadrinhos, etc. são marcas registradas dos seus respectivos proprietários.

Siga-nos:
  • Facebook Social Icon
  • Instagram Social Icon
  • Twitter Social Icon
  • YouTube Social  Icon
  • Spotify Social Icon
bottom of page