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Crítica | Doentes de Amor


É uma comédia, eu prometo!” , apressa-se a dizer o comediante Kumail Nanjiani em quase todas as entrevistas de divulgação de Doentes de Amor (The Big Sick), filme roteirizado e protagonizado por ele. Conhecido pelo papel de Dinesh em Silicon Valley e pelo programa de Stand Up que divide com Jonah Ray na Comedy Central, Kumail agora parte para uma grande aposta na realização do filme de sua vida. Literalmente.​


O longa conta a história de um casal enfrentando as barreiras da cultura, da família e de uma doença fatal para construir uma história de amor. Não parece engraçado? Provavelmente não ajudaria saber que o enredo é, na verdade, baseado em fatos muito reais.


Escrito com a ajuda de Emily Gordon, esposa de Kumail, o roteiro foi inspirado pela história do casal e adaptado para o cinema com a ajuda do produtor Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos) e do diretor Michael Showalter (Grace and Frankie). Em Doentes de Amor, esse time não decepciona ao trazer uma perspectiva cômica, na medida certa, a respeito das adversidades da vida.


O recorte temporal desenvolve-se durante o primeiro ano do relacionamento improvável entre Kumail e Emily, e segue o ponto de vista de Kumail para introduzir a trama. A princípio somos apresentados à carreira e a família do protagonista, os grandes pilares de sua identidade conflitante. Esses dois elementos, aliás, funcionam como grandes constantes, sendo retomados ao longo de todo o filme.


A família Nanjiani, que veio de Karachi em busca de uma vida nos Estados Unidos, ocupa um papel fundamental na trama; através dos olhos deles ,e da luta para manter a cultura paquistanesa em meio ao mundo ocidental, passamos a compreender um pouco mais sobre a influência que exercem sobre a vida do filho. Tudo de maneira muito bem humorada e sem exageros estereotipados, o que foi garantido pela atuação excepcional do núcleo composto por Zenobia Shroff, Adeel Akhtar e Anupam Kher ( O Lado Bom da Vida).


Essa atmosfera de naturalidade também envolve o relacionamento entre o casal protagonista; Desde o momento em que se conhecem os diálogos, os olhares e até mesmo as atitudes dos personagens indicam uma espontaneidade na construção dessa relação. À medida que a narrativa avança, os dois criam uma conexão e decidem permanecer juntos.


Ainda assim, a incerteza continua presente, mostrando que ambos sustentam uma espécie de vida paralela, sem brechas para o passado. Estes segredos são o estopim para o fim do relacionamento, que acaba sem diálogos exasperados ou clichês de sofrimento. Ao mesmo tempo o roteiro sabe trabalhar a mágoa presente nas fragilidades de uma geração com problemas de confiança.


A partir dessa ruptura, a narrativa também se divide e o filme se encaminha para uma segunda parte.Após alguns meses, Kumail se vê de volta à vida de Emily (Zoe Kazan), descobrindo abruptamente que a ex namorada está submetida à um coma induzido para o tratamento de uma doença. Ao contrário do drama que poderia decorrer de uma situação como essa, a reação do protagonista nos conduz a sentimentos muito mais próximos da realidade; ele mostra estar tão perdido quanto o espectador diante da reviravolta em sua história.


Traçar uma linha tênue entre tragédia e comédia é, inclusive, uma das grandes maestrias do filme, que combina a complexidade de situações cotidianas para mostrar o quão paradoxal a relação entre realidade e ficção pode ser. Isso é muito bem representado pela entrada dos pais de Emily, (Holly Hunter e Ray Romano), na história, e o relacionamento que constroem ao dividir todo esse processo com Kumail. Há uma subversão de todos os padrões quando o protagonista se vê obrigado a confrontar o passado da ex namorada através dos olhos da família Gordon, aprendendo muito mais sobre ela e sobre si mesmo.


Apesar da leveza, esse movimento de parábola torna-se marcante na narrativa, principalmente pela duração um tanto incomum para o gênero. Algumas cenas, que não interferem diretamente no desenvolvimento da trama, são colocadas para assentar uma atmosfera cômica que poderia ser explorada de outras maneiras, impedindo a dispersão do espectador. A construção das cenas parece ter sido dirigida para representar uma mistura de tudo ao mesmo tempo. O que é compreensível quando tomamos a vida real como inspiração .


Para aqueles que esperam de Doentes de Amor um gênero específico, essa pode se revelar uma experiência frustrante. O filme não é exageradamente engraçado, nem dramático, ou romântico. O desfecho não dedica-se a concluir, muito pelo contrário; traz grandes consequências em aberto. Mas se você estiver disposto a deixar todas as classificações de lado, acompanhar essa trajetória vai te trazer boas risadas e doces reflexões. Como as fotos nos créditos indicam, esse é apenas um capítulo de uma história que segue a ser escrita.



Direção: Michael Showalter


Elenco: Kumail Nanjiani, Zoe Kazan, Holly Hunter


Duração: 2h 00min


Data de lançamento 19 de outubro de 2017

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