Crítica | Deserto

Numa indústria que pouco mostra atualidades e temas de discussão e reflexão, o filme escrito e dirigido pelo jovem Jonás Cuarón – que co-escreveu o sucesso “Gravidade”, de 2013 – chega aos cinemas com uma ótima proposta de debate frente à toda polêmica envolvendo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e suas recentes atitudes e alegações relacionadas ao México.

O filme “Deserto”, tradução livre do título original "Desierto", de 2015, só chega aos cinemas brasileiros em 2 de novembro desse ano, contando com o protagonismo de Gael García Bernal e Jeffrey Dean Morgan, e Alondra Hidalgo como coadjuvante. O ator dá a Moises (Gael García Bernal) características particulares que destoam de seus outros papéis, como o egoísta Victor de “Cartas Para Julieta”, salientando o trabalho incrível do ator, enquanto o americano Morgan se assemelha ao genioso Negan de “The Walking Dead”. Essa mistura, além de dar o toque de adrenalina que o filme precisava, também caracteriza o maniqueísmo com que Cuarón tratou a problemática trazida pelo longa.

O enredo desponta com Moises que, junto de Adela (Alondra Hidalgo) e um grupo de mexicanos, enfrenta o deserto da fronteira entre o México e os EUA numa travessia ilegal em busca de uma vida melhor. Enquanto Sam (Jeffrey Dean Morgan), acompanhado de seu cão Tracker, dá início a uma perseguição violenta aos intrusos que caracterizam a crítica da produção ao extremo nacionalismo norte-americano.

Se no tom ácido e, principalmente, na atuação de Jeffrey Dean Morgan o filme não deixa em nada a desejar, a construção do personagem de Gael García Bernal causa incômodo pelo modo heroico como é apresentado, causando um paradoxo entre a crítica ao norte-americano e seu padrão de herói de filme de ação clássico nas produções hollywoodianas.

Deserto é então uma boa pedida para aqueles que buscam ação e suspense num filme, deixando o telespectador ávido na torcida por Moises. Entretanto, não inova no roteiro, o que pode causar decepção àqueles que passam longe de um clichê.