Crítica | O Estado das Coisas

Quem nunca alimentou o desespero de pensar em um futuro frustrado, que compartilhe o segredo com o mundo! Vivemos em uma sociedade cada vez mais exigente quando o assunto é sucesso e realização pessoal, e essa busca incessante nos leva ao medo do fracasso e a comparação inconsciente com as conquistas alheias.Esse é o dilema com o qual Brad Sloan, protagonista do novo filme dirigido e roteirizado por Mike White (Escola do Rock) , se depara ao enfrentar O Estado das Coisas (Brad’s Status).

Sob a direção despretensiosa de White, Ben Stiller dá vida à um pai que encontra-se em uma batalha com seu passado, ao mesmo tempo em que tem como missão guiar o filho, Troy (Austin Abrams) , rumo ao futuro. Construindo trajetórias paralelas, Brad questiona-se sobre a vida e suas próprias escolhas à medida que acompanha a juventude do filho. Ao mesmo tempo em que estabelece comparações, o personagem mostra-se disposto a fazer o que for preciso para impedir Troy de seguir pelo mesmo caminho.

Com a ajuda de uma trilha sonora instrumental que parece reger os pensamentos angustiantes do protagonista, o filme todo é intercalado pela narrativa de Brad e os momentos que despertam memórias dos antigos amigos e tempos de faculdade. Cada um dos antigos membros do grupo aparece em flashes de sucesso, pequenos fragmentos da vida impecável que Brad assume não ter alcançado. Os planos fechados da câmera ajudam a ampliar a sensação de asfixia, e Stiller sabe usá-los para mostrar sua versatilidade como um ator que sabe mesclar momentos de seriedade com alívios cômicos sem exageros.

Apesar de não terem tido tanto espaço para mostrar todo o potencial nas atuações, as interpretações de Luke Wilson (Dias Incríveis), Jemaine Clement (Homens de Preto 3) , Michael Sheen (Meia Noite em Paris) e do próprio Mike White como os ex colegas de universidade de Brad conferiram , para além do humor, importantes pilares para o desenvolvimento das questões apresentadas. Bem como as atrizes Shazi Raja (Salvation) e Jenna Fischer (The Office) que, na história, representam dois contrapontos aos devaneios do protagonista.

Contemporâneo, emocionante e reflexivo, O Estado das Coisas aposta em uma direção simples que ajuda a evidenciar os pensamentos, facilmente identificáveis em todos aqueles submetidos à constante pressão pelo sucesso na Era da exposição. Talvez você precise de um minuto ou dois para rever todas as certezas e inseguranças que rondam as suas próprias expectativas em relação ao futuro, mas definitivamente vale a pena mergulhar nessa experiência.