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Crítica | O Rei do Show


[O texto contém spoilers]


Quando os olhos brilham e marejam, o sorriso alarga e as mãos tamborilam, incapazes de conter a energia tomando conta de cada célula do corpo, podemos assumir que estamos diante de um grande espetáculo; algo que inquieta e ao mesmo tempo contenta. Foi esta a atmosfera criada por Michael Gracey em sua estreia cinematográfica com O Rei do Show (The Greatest Showman). Com a ajuda do roteiro bem amarrado escrito por Jenny Bicks ( Sex and The City) e Bill Condon ( A Bela e a Fera), a trilha sonora produzida pelos vencedores do Oscar, Oscar Benj Pasek e Justin Paul (La La Land), e a força carismática do elenco, o longa tem potencial para despertar emoções e reações intensas no espectador, provando ser por si só a principal atração.


Desde os primeiros segundos, o filme mergulha no universo visual, colorido e musical que os espera ao longo da narrativa. Ao som das batidas “pop” da música “The Greatest Show” o sonho conquistado pelo protagonista P.T Barnum (Hugh Jackman) é apresentado em tons grandiosos , jogando em contraste com as próximas cenas que contarão sobre a jornada trilhada por ele para chegar até lá. Assenta-se ali a inspiração de um homem que não teve medo de apostar na visão idealizada de um mundo criado para combater as imposições de uma sociedade desigual.


A história, o nome e as conquistas não foram atribuídas ao acaso; Phineas Taylor Barnum existiu, e foi um dos maiores empresários do entretenimento norte-americano do século XIX. Além disso, o empresário ficou conhecido por saber manipular a platéia, explorar o excêntrico e dar vida ao circo de variedades e farsas. Amado ou odiado, o verdadeiro P.T Barnum era, para dizer o mínimo, ambíguo. Algumas destas características foram mantidas no filme, mas o longa não deixa de usar da liberdade ficcional para criar um herói ambicioso e sonhador, que contagia e transforma todos à sua volta. A adaptação funciona; Barnum ficaria orgulhoso.


Após anos de luta e trabalho duro ao lado da família, composta pela esposa Charity (Michelle Williams) - grande amor de infância e companheira de aventuras- e as duas filhas, Caroline e Helen, Phineas usa como combustível a rejeição do passado para dar vida às excentricidades de sua mente. Apostando em uma espécie de freak show, ele reúne um grupo de homens e mulheres que são vistos como aberrações pela sociedade, rejeitados como ele, mas desacreditados. Barnum insiste em acreditar neles, e é justamente a partir desta crença que as principais mensagens do filme surgem.


Dentro deste grupo destacam-se Keala Settle, interpretando a mulher barbada de voz esplêndida e representando o termômetro de todos os demais integrantes do circo; Zendaya Coleman (Homem Aranha: De Volta para Casa), que vive à poderosa Anne Wheeler, a trapezista; Sam Humphrey no papel do anão Napoleão, Tom Thumb. Zac Efron (Hairspray) retorna aos musicais (provando ser muito mais que Baywatch tem a oferecer) e brilha como Phillipe Carlyle, um jovem escritor de peças que abre mão de uma vida de aparências para virar sócio e discípulo de Barnum. Rebecca Ferguson (The White Queen) também rouba a cena ao interpretar uma personagem baseada em uma identidade real, a cantora de ópera sueca, Jenny Lind. Sua personagem é um grande contraponto na narrativa, construindo um perigoso símbolo da ambição sem limites do protagonista.


O foco do filme é a trajetória de Phineas, mostrando altos e baixos. No entanto, a transformação que suas ideias geram nos personagens alcança questões muito mais amplas: a luta pelo próprio destino, a importância de desafiar o que foi imposto pela sociedade e o poder inegável da imaginação.Apesar da beleza do discurso, o roteiro é pouco ambicioso e surpreende pela falta de ousadia diante de um cenário que se propõe tão extraordinário.


A trilha sonora, por sua vez, ajuda a acrescentar os elementos que faltam. Muito bem arquitetada pelos mesmos criadores das músicas dançantes de La La Land, traz letras fortes e impactantes, capazes de traduzir os discursos com perfeição, além de funcionar muito bem com as as cenas, sem parecer forçado. As batidas pop fazem jus à fama de Barnum e constroem um anacronismo visionário em relação à uma trama que se passa no século XIX. Sem dúvidas, músicas como This is Me atingirão rapidamente os hits internacionais.


As fórmulas clichês usadas para conduzir certas partes da narrativa, por vezes um tanto corrida, e a falta de profundidade dos personagens secundários são facilmente contornados pelo roteiro bem estruturado, pela atuação experiente de Hugh Jackman (Logan; Os Miseráveis) e pelos ganchos entre as cenas, responsáveis por prender a atenção de quem assiste do começo ao fim. Mas é a combinação de carisma, energia e diversidade que transformam O Rei do Show em uma emocionante experiência de “culto à humanidade”, reforçando que olhos brilhantes e aplausos nem sempre são o suficiente para o grande espetáculo da vida.

Direção: Michael Gracey

Elenco: Hugh Jackman, Michelle Williams, Rebecca Ferguson, Zac Efron e Zendaya

Duração: 2h 19min

Data de lançamento: 25 de dezembro de 2017

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