Crítica | Black Mirror - 4ª Temporada

Episódio 1 - Uss Callister

Black Mirror sempre foi chamada de inovadora por conta de suas histórias, e com toda certeza não tem episódio que represente melhor essa temporada do que USS Callister. Imagina que você pode estar dentro de sua série ou filme favorito e escrevendo sua própria história, não seria incrível? Robert Daley (Jesse Plemons) mostrou que isso pode ser algo incrível para a inovação da realidade virtual, mas muitas vezes perigoso.
Enquanto todos os jogadores esperam até o natal para uma nova atualização, ele cria uma versão beta e exclusiva onde não se conecta ao ambiente online, reencenando as cenas de sua série favorita USS Callister.
A forma que o mundo de Daley é totalmente diferente das outras maneiras - isso sem dar qualquer tipo de spoiler - sendo até de certa forma meio bizarra e perturbadora, onde obviamente ele é o capitão e o centro de tudo.
É muito interessante a forma que o diretor Toby Haynes utiliza a forma de linguagem da televisão - sendo obviamente uma paródia de Star Trek - transformando seu protagonista, ou "mocinho", em uma especial de vilão, passando o bastão para Nanette (Cristin Millioti).
Sendo um episódio cheio de efeitos visuais, com bons plots e sombria, USS Callister inicia a 4ª temporada de Black Mirror, mostrando como a tecnologia pode ser usada para diversão, mas que alguns as vezes não sabem brincar.

Episódio 2 – ArkAngel

Todos os pais se preocupam com seus filhos na infância, com o que podem estar assistindo, com quem estão brincando na escola e todas as coisas do tipo. Agora imagine uma tecnologia onde você ver em tempo real aquilo que ele está fazendo, enxergando o mundo na perspectiva de seu filho. Não seria um sonho? As vezes segurança demais pode ser um grande problema e com toda certeza Arkangel nós faz enxergar muito bem isso.
Assim como muitos capítulos já assistidos de Black Mirror, este é mais um que vemos o implante mental sendo utilizado como o tema principal da trama, sendo um condutor de narrativa. Sabemos bem que tudo que é grátis e experimental fazem os olhos das pessoas brilharem, o que foi o caso da mãe (Rosemary DeWitt) que após perder sua filha em um parquinho vê como uma oportunidade de não deixar isso nunca mais acontecer. Essa tecnologia possibilita o modo visão "ocular", onde ela tem a visão de sua filha de onde quiser, podendo assim também ativar o modo "seguro", onde tem a possibilidade de bloquear a visão da filha para imagens de violência ou coisas assustadoras.
Se tratando de Black Mirror, sabemos muito bem que nem tudo são dias de verão, Charlie Brooker - roteirista e diretor - questiona a questão não só da privacidade, mas dos filtros de colocamos nas coisas que camuflam o mundo real, que começa a afetar a vida da criança, principalmente depois que ela chega em sua fase adulta, que é onde Jodie Foster retrata isso muito bem quando nos coloca na visão da garota.
O que deveria ser uma tecnologia que ajudaria as mães, se transforma em um grande pesadelo, que mesmo desligando por um tempo a tecnologia de sua filha ele nunca é retirado, marcando sua filha como uma "chipada" pela sociedade, já que o governo não deu andamento com o programa.
Arkangel pode ser um episódio de pouca duração, tendo apenas 50 minutos, mas que nesse tempo retrata bem como a tecnologia pode ser, mesmo que eficiente, também muito perigosa e o alerta que Jodie Foster - produtora - mostra como muitas vezes pode ser perigoso sufocar uma criança dando uma super proteção.

Episódio 3 – Crocodile

Saindo um pouco da tecnologia, Crocodile deixa de lado um pouco os absurdos que as tecnologias podem fazer, focando dessa vez nos absurdos humanos. Com Andrea Riseborough como protagonista, faz a ligação de duas linhas narrativas totalmente diferentes.
Na primeira linha temos Mia, que contem um passado horrível com seu ex-namorado e que hoje em dia luta para seguir em frente com sua nova família. Já na segunda, a analista que está apenas querendo fazer seu trabalho, investigando um pequeno acidente de uma vitima de atropelamento, usando sua tecnologia de memoria para investigar o caso, trazendo muitas coisas a tona.
Crocodile lida com um jogo de "gato e rato", aumentando a tensão quando as duas protagonistas começam a se aproximar de cruzarem uma o caminho da outra. Mesmo sendo um episódio que dá coceira e nos impressiona como a mente do ser humano pode ser perturbada, acaba não sendo o melhor episódio da temporada. O grande problema é como as duas histórias são construídas, deixando ambas meio confusas e não fazendo muito sentido algumas vezes, nos deixando meio cansados de assistir.
O que salva é as questões que são levantadas no episódio, o elenco e a fotografia de John Hillcoar. A direção também não deixa a desejar, utilizando as jogadas de câmera de forma que deixam você com mais vontade de assistir. E com toda certeza Crocodile mostra como o humano pode ser bom e podre ao mesmo tempo, usando tons de alivio e também de sarcasmo para retratar isso.

Episódio 4 - Hang the DJ

É impossível assistir o episódio Hang the DJ e não associa-lo ao incrível San Junipero, da 3ª temporada. Mesmo sendo um episódio que dá um certo "alivio" dos demais, mostrando uma mensagem positiva sobre relacionamentos, o episódio nos apresenta algo bem diferente.
Imagine um Tinder bem mais aperfeiçoada, que funciona como uma inteligencia artificial, que traz como sua proposta "juntar" duas pessoas, mas para dar o match final você precisa encarar MUITOS relacionamentos. Será que isso valeria a pena apenas para conhecer aquele que pode ser seu par ideal?
O sistema pode fazer você ficar anos com a pessoa, dias ou até mesmo apenas algumas horas, possibilitando você descobrir se aquela pessoa é ou não seu par. Mas o sistema traz algo muito diferente, já que só vemos as pessoas se relacionando e não fazendo outra coisa de suas vidas, nos trazendo muitos questionamentos sobre aquilo tudo.
Mas sabemos que quando se trata de Black Mirror não adianta tentar adivinhar, já que sempre vamos falhar ao tentar descobrir a trama antes do final. O único problema que Hang the DJ é o fato dele ser um pouco longo, sendo que sua trama poderia ser resolvida em até menos tempo, trazendo uma reviravolta mesmo que bacana, pode não impressionar tanto aqueles que já são fãs, achando talvez nada inovador para a trama.
Mesmo sendo muito bom, acaba sendo um pouco fraco nessas pequenas questões, não tirando o mérito de como trama a questão dos relacionamentos, mas também não chega aos pés de San Junipero.

Episódio 5 – Metalhead

Metalhead já se inicia com o pé na porta, nos apresentando três personagens fugindo de algo em um cenário totalmente deserto. Sendo filmado totalmente em preto e branco, jamais entendemos o contexto em que aquelas pessoas estão inseridas, mas entendemos de cara que a sobrevivência é o grande foco.
Os Metalheads - ou "cabeças de metal" - que dão nome ao quinto episódio da temporada, são totalmente impossíveis de se destruir. Funcionando como cães robôs que matam as pessoas, vemos a perseguição dele pela protagonista querendo pega-la a qualquer custo, o que acaba nos fazendo quase cair do sofá.
Metalhead - para mim - é com toda certeza o episódio mais assustador da temporada, já que vivenciamos o que pode ser um grande apocalipse das maquinas, onde elas dominariam tudo tentando tornar extinta a existência humana.
O que nos deixa ainda mais nervosos com certeza é o fato de não sabermos como tudo ocorreu e nem os motivos, nos deixando no escuro em alguns momentos, nos deixando sem saber se nossos protagonistas são realmente os mocinhos ou não.
Sendo um dos melhores episódios da temporada, ele com toda certeza vai dividir muitas opiniões ao assistir, mas que não podemos negar que seu modo de inicio e fim não fazer nenhum tipo de introdução e solução daquilo é totalmente GENIAL.

Episódio 6 - Black Museum

Muitos crimes são cometidos em apenas 1 ano, sendo que apenas 30% poderiam ser dignos de fazerem parte de um Museu. O "The Black Museum" é um famoso museu de crimes da Scotland Yard da Inglaterra e que serve como uma grande inspiração para um dos episódio de grande destaque da temporada, reunindo tudo que pode existir em Black Mirror: tecnologia, humor negro, horror e sarcasmo.
O horror e o humor andam de mãos dadas no último episódio da temporada, nos fazendo ficar com vontade de ficar ali para sempre sabendo mais sobre as histórias. Uma jovem britânica, após parar para abastecer seu carro, decide matar o tempo em um museu de crimes que fica na beira da estrada, onde conhece o curador que parece gostar muito das histórias que existem por traz de todos aqueles objetos fascinantes.
Black Museum aborda o absurdo da ciência médica, obviamente sempre focando nas tecnologias mentais, que podem desgraçar muitos seres humanos se não forem usadas da forma correta. E não só isso além de mostrar histórias, apresenta algo que realmente não estamos esperando.
O episódio é uma homenagem a vários episódios já apresentados em outras temporadas, trazendo easter eggs de San Junipero, White Bear, Playtest e muitos outros.
Black Museum mostra que realmente as histórias estão interligadas no mundo de Black Mirror, mostrando que foi criado um universo muito rico, por Charlie Brooker e Annabel Jones. E sendo o episódio que fecha a temporada - se você assistir em sequencia - encerramos da melhor forma possível, ficando totalmente satisfeito com a temporada e deixando os fãs do sarcasmos, tecnologia e coisas futuristas absurdas que Black Mirror apresenta muito felizes.
