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Crítica | Voldemort: A Origem do Herdeiro


O fandom de Harry Potter é poderoso, ninguém ousa dizer o contrário. Desde o lançamento do último livro, e posteriormente da última parte de Relíquias da Morte, os potterheads dedicam-se incansavelmente a buscar teorias e possibilidades que surgem a partir do debate rigoroso sobre o passado, presente e futuro dos personagens inseridos no universo mágico criado por JK Rowling.


Os sete livros e os oito filmes da saga - sem contar a franquia de Animais Fantásticos e Onde Habitam - não foram suficientes para explorar todos os ângulos do mundo bruxo, e das personalidades tão bem desenvolvidas pela autora. Fragmentos de histórias foram contadas, mas jamais desenvolvidas cinematograficamente, o que deixou uma grande brecha para a criatividade daqueles que desejam ir além do “tudo estava bem”.


Aproveitando a facilidade da internet e a popularidade das já tão conhecidas fan fics, um grupo de fãs italianos sondou uma proposta de transformar em um filme não oficial, totalmente produzido e roteirizado por eles, a história de nada menos que Tom Riddle aka Lord Voldemort. O filme seria disponibilizado sem fins lucrativos no YouTube, e o orçamento viria da colaboração de financiamento coletivo, com dinheiro doado por outros fãs ao redor do mundo.


A ideia é, ao mesmo tempo, encantadora e assustadora. Trabalhar com a complexidade da personalidade e das características peculiares de um personagem como Tom Riddle é certamente uma tarefa desafiadora. E , até então, não se sabia ao certo qual parte da extensa trajetória do bruxo das trevas mais poderoso de todos os tempos seria contada.


O projeto, entretanto, despertou a curiosidade de muitos e teve apoio sem precedentes do fandom. A equipe produtora, composta por vinte pessoas, que trabalham sob a identidade Tryangle Films, começou o trabalho meticuloso de pesquisa utilizando o material disponibilizado por JK nos livros. Notando a movimentação, a Warner vetou a iniciativa e só permitiu a continuidade após certas negociações e o compromisso da produtora em desvincular o conteúdo da distribuidora e de não arrecadar qualquer lucro.


Finalmente, o projeto teve o aval para ser levado adiante, e quase um ano após o comunicado, Você-Sabe-Quem conquistou o direito de protagonismo com seu nome exposto no título. Em janeiro de 2018 chegou ao YouTube, Voldemort: A Origem do Herdeiro. O título impressionante condiz com a caracterização minuciosa dos figurinos , cenários e efeitos especiais que - é importante ressaltar - foram desenvolvidos sem a ajuda de orçamento externo e inteiramente idealizados por fãs. Olhando a partir deste ponto de vista, a direção de Gianmaria Pezzato, também responsável pelo roteiro, foi ambiciosa e conseguiu traduzir a atmosfera sombria e excêntrica típica da jornada de Voldemort.

Além da caracterização, a atuação de Stefano Rossi (Tom Riddle) merece destaque; a frieza nos olhos, a manipulação dos sentimentos e da lábia típica do personagem, bem como a intensidade astuciosa de suas ações foram captadas com maestria. Quanto às outras atuações, no entanto, deixaram um pouco a desejar. Mas é sempre necessário voltar à perspectiva de que em produções de médio porte como estas, não há tempo nem orçamento para investir em atores experientes.

Quanto ao enredo, é possível perceber que os trechos descritos nos livros, sobretudo em O Enigma do Príncipe, foram levados em conta para a construção da história. O assassinato astutamente planejado de Hepzibah Smith e o roubo das relíquias que eram tão caras à Riddle para futuramente servirem de depósito para as temidas horcruxes são exemplos de cenas importantíssimas, que são muito interessantes sob o ponto de vista cinematográfico.

As relações e o comportamento de Tom em Hogwarts, embora tenham sido adaptados com fidelidade, mostram-se um tanto flexíveis quanto a questões muito particulares do personagem. A trama envolvendo os descendentes diretos da linhagem dos fundadores das quatro casas de Hogwarts é um adendo ficcional que também traz fatores interessantes. Afinal, se Salazar, Godric, Rowena e Helga puderam se unir e formar um legado, o que impediria uma nova união desse tipo no futuro? O único incômodo é ter Tom Riddle fazendo parte desse conjunto. Isso o obrigaria a dividir sua identidade de herdeiro, algo que Dumbledore contou à Harry durante suas inúmeras viagens pelas memórias na penseira que estava fora dos planos do o jovem bruxo das trevas.

Ainda assim, a liberdade dos fãs de adicionar à história uma certa subjetividade faz parte da interpretação e é extremamente importante para encontrar novos pontos de vista. O enredo foi bem encaixado, e as reviravoltas válidas. O que realmente decepcionou, talvez pelo tempo limitado, foi a falta de desenvolvimento das ações de Voldemort e até mesmo mais detalhes sobre suas origens de fato, como o próprio nome da produção promete mas não entrega.

Outros detalhes técnicos também atrapalharam um pouco a experiência, como a dublagem em inglês - que muitas vezes não sincronizava com os movimentos faciais dos atores - e certos planos e closes excessivos que tornaram algumas cenas um tanto claustrofóbicas. Tirando estas ressalvas, o filme tem potencial para expandir ainda mais o universo de Harry Potter. De iniciativas como essa podem surgir ideias brilhantes, releituras significativas e incentivos relevantes para a própria indústria cinematográfica considerar um pouco mais de atenção aos pedidos dos fãs desesperados para assistir às outras partes dessa e de muitas outras jornadas do mundo bruxo.

Certamente, 52 minutos não são suficientes para contar a trajetória completa de Lord Voldemort, mas representam um precioso tempo passado com um dos personagens mais interessantes da saga, trazendo uma nostalgia prazerosa de acompanhar. Amando ou odiando, A Origem do Herdeiro é uma ótima oportunidade de ampliar a imaginação e despertar a magia adormecida no coração de todos nós.


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